É inegável que a adaptação de histórias em quadrinhos para os cinemas está de vento em popa. Filmes como Batman: O Cavaleiro das Trevas (DC) e recentemente Os Vingadores (Marvel) foram executados à maestria e deram ao publico bem o que eles queriam. Entretanto nem sempre foi assim. Inúmeras personagens de HQs já ganharam adaptaçõesn na tentativa de por na telona o que se leu nos quadrinhos, e como dizem, a falha é sempre uma possibilidade... E quando a falha parece extremamente proposital o que acontece é que a palavra adaptação parece totalmente mal colocada, mais parecendo que a obra foi remodelada, para fins sombrios ou evidentes demais, que a indústria do cinema sempre impõe às suas produções. O que algumas vezes pode vir a ser um tiro pela culatra.
Basicamente foi o que aconteceu com A Liga Extraordinária. Quem já viu o filme sabe: é bem bacana – uma aventura de Sessão da Tarde, como já o foi, eu acho. Agradou bastante quem foi assistir apenas ao filme sem conhecer sua origem, pois tem muita açao e bons efeitos especiais. Mas quem conhecia sua origem das HQs, certamente se decepcionou.
A Liga Estraordinária vol. 1 (The League of Extraordinary Gentlemen, em inglês) foi lançada pela DC Comics em 1999 e é a primeira de mais quatro publicações. Escrita por ninguém menos que Alan Moore, considerado um dos mestres dos quadrinhos com sua narrativa enfática e diálogos ironicos (que são uma verdadeira assinatura) e desenhada por Kevin O’Neill, com seu traço quase caricato mas que dá um aspecto noir e exótico à HQ, o que cai como uma luva, dado o contexto da história.
Tudo começa em Londres de 1898, a senhorita Wilhelmina Murray é recrutada por Campion Bond para montar a Liga. Mandada para o Egito em compania do Capitão Nemo, Murray encontra Allan Quatermain, que se tornou um viciado em ópio. A dupla é forçada a fugir para as docas após Quatermain ter de defender Murray de um grupo de árabes que tentaram estuprá-la. Nas docas, Nemo surge a partir do Nautilus para resgatá-los.
Esta foi uma descriçao bem simples e direta do início da saga. Já está evidente o quão diferente a HQ é do filme. Não apenas a forma como a Liga é montada, mas a situação que seus personagens estão. Moore coloca Quatermain com viciado em ópio, e ele está em um estado deplorável. A Srta. Murray até duvida de suas capacidades, mesmo em face de inúmeras histórias que ouviu sobre ele. Vejam como só isso já deixa a história mais densa. Assim como o alcoolismo de Tony Stark é quase esquecida nos cinemas, jamais colocariam Quatermain nas telonas como um viciado decrépto. Lá (no cinema) ele mal anseia por isso.
Depois de resgatar Quartermain, o agora trio formado pela Srta. Murray, Cap. Nemo e Quartermain rumam para Paris para ver o detetive Auguste Dupin, que investiga brutais assassinatos de prostitutas na Cidade Luz por algo que mais parece ser um gorila gigante. Claro que neste caso estamos falando e Dr. Jekyll e seu alter ego monstuoso Mr. Hyde. Quarteto formado, o quinto a ser recrutado é Mr. Griffing, o homem invisível. A personalidade de Griffing é tão dificil de ver quanto sua presença... Enigmático e nunca plenamente confiável, ele acaba por cooperar, à sua maneira, aos propósitos da Liga. Como e onde ele é recrutado deixarei pra quem quiser ler nos quadrinhos.
Depois da liga formada, a missão dada fora recuperar uma substancia chamada carvorita, um elemento com propriedades antigravitacionais, roubada do cientista que a descobriu por um grupo de terroristas asiáticos. Ao menos foi isso que a Liga soube de início, o que realmente descobriram tornou a situação um pouco mais complicada...
Como eu disse, a condução dos personagens é que torna a trama tão interessante. Todos eles sairam de livros de ficção de autores clássicos, como Allan Poe, Conan Doyle, H. G. Wells, Bram Stoker e Robert Luis Stevenson. Mesmo que não pareça tão original usar de personagens já existentes, quem antes pensou em fazer isso com tais personagens?
Outra peculiaridade é que todos ingleses. Na Liga dos cinemas há ainda mais dois personagens – o Imortal e o jovem agente, que mais tarde vira aprendiz de Quartermain: Tom Sawyer, peculiarmente o único americano, personagem dos livros de Mark Twain. Artifício de Hollywood pra atrair o “mercado interno”.
A falta de paralelos entre a HQ e o filme é o obstáculo a ser vencido: não leia a HQ esperando ter o filme em mãos, e o inverso também é verdadeiro: não assista ao filme achando que vai vivenciar a HQ. Moore apresenta uma trama simples, entretando mais grandiosa. E a conduz com seus ganchos caracteristicos, seus diálogos divertidos e vivos. Com doses de extrema violencia, ação e risadas tão homogêneas que lhe segurará página após página.
Quanto mais eu falo, menos revelo da HQ. Procurem-na, não faz muito tempo vi uma versão encadernada em uma grande livraria. Talvez não seja um clássico absoluto, mas uma grande homenagem à literatura e um dos melhores exemplos da magia dos quadrinhos, com certeza!
Ótima resenha. Quem já leu, vai concordar, e quem ainda não leu vai sentir vontade de ler.
/\/\/\ verdade... agora é encontrar XD
Já assisti o filme e é isso mesmo que você diz. Tenho vontade de ler o quadrinho e realmente existe um encadernado sendo vendido nas Comic Shops. Trata-se de "A Liga Extraordinária - Volume 1". E aí vem minha pergunta... Existem quantos volumes? Soube de um volume, recente, no qual Harry Potter vai aparecer. Alguém sabe de algo sobre isso?